O sangue e seus componentes, as células hematopoiéticas, os tecidos e os órgãos, enquadram-se numa área da Medicina altamente regulamentada, a nível dos países ocidentais. Tratando-se de material de origem humana, é importante, para os produtos obtidos pós-morte, evitar o que sejam suscetíveis de serem traficados ou, quando obtidos de dadores vivos, que os dadores sejam voluntários e não coagidos, não remunerados e saudáveis, de modo a evitar a transmissão de doenças.
A dádiva de sangue total ou a dádiva de componentes, por técnicas de aférese, são práticas frequentes e inócuas para os dadores, desde que seguidas as regras de segurança e qualidade. Fundamental é que, só podendo ser obtido pelo altruísmo das pessoas, o sangue e componentes sejam utilizados com plena justificação ou quando, qualquer alternativa à transfusão, pode representar um dano grave para o doente.
Sem a ação dos dadores de sangue, muitos dos doentes politraumatizados não sobreviveriam, muitas das grandes cirurgias deixariam de ser feitas e alguns dos transplantes não teriam êxito.
Por esta razão e porque a fonte é limitada (podem ser dadores de sangue indivíduos saudáveis, de ambos os sexos, entre os 18 e os 65 anos) a sua utilização, em situações em que não seja estritamente necessário ou a sua eventual caducidade, constitui um sinal de má gestão de componentes do sangue.
Os componentes de sangue podem ser utilizados na transfusão, que é a sua utilização mais comum, mas também podem ser utilizados na obtenção de derivados do plasma, nos quais se incluem os fatores individualizados da coagulação – sendo os mais utilizados os fatores VIII, IX, e fibrinogénio -, ou complexo protrombínico.
São múltiplas as utilizações do plasma rico em plaquetas quer na reconstrução tissular, quer na cicatrização de músculos, tendões e no tratamento problemas músculo-esqueléticos e articulares dos desportistas, devido às propriedades anti-inflamatórias e regenerativas das plaquetas, que representam um papel importante quando o objetivo é a modulação cicatricial. O gel de plaquetas surgiu como uma alternativa viável para minimizar as complicações decorrentes do uso da cola de fibrina utilizada em diversos tipos de cirurgia (da cardíaca à urológica), induz a cicatrização de feridas já que aumenta a revascularização (angiogenese) e estimula a sínteses e diferenciação de células precursoras.
A dádiva de sangue, feita através de um gesto simples e sem risco, constitui uma fonte inesgotável de material biológico que pode ser utilizado em proveito dos que estão doentes e dele necessitam.
É, por isso, de valorizar todos aqueles que doam voluntariamente um produto que pode salvar a viva ou a qualidade de vida de muitos os doentes, já que a única maneira de o obter é através da solidariedade humana.